O atendimento de pacientes com dependência química é diferente de todos os outros.
Precisamos criar uma conexão com o paciente e influenciá-lo a continuar criando conexões positivas com os outros.
Às vezes precisamos falar um pouco de nós e até mesmo conversar amenidades, coisas que aparentemente não são relevantes.
O uso de qualquer droga deve ser contraindicado, porém é importante entender que é uma minoria das pessoas que iniciam o uso de alguma substância, como álcool, maconha e cocaína que se tornam dependentes.
Um estudo estimou que são cerca de 5 a 6% dos que iniciam o uso de cocaína que adquirem dependência, considerando apenas os dois primeiros anos de uso (O’Brien, M., 2005).
E o foco do nosso trabalho é justamente esse: entender os porquês do paciente ter entrado nessa minoria estatística para então poder ajudá-lo.
Investigar outras doenças psiquiátricas é o primeiro passo, mais de 70% dos pacientes com dependência química podem apresentar outro transtorno que piora o uso da substância (Kandel et al.,1999).
O TDAH não tratado, por exemplo, aumenta em até 8 vezes o risco de abuso de substâncias (Dalsgaard S, 2014). Como esses pacientes possuem um déficit na liberação de dopamina, é mais difícil controlar o impulso por atividades prazerosas.
É importante falar sobre a “balança de prós e contras” e mostrar os atuais e possíveis malefícios do uso. Um risco importante é o de “psicose crônica” e, às vezes, saber disso é mais uma motivação para manter a abstinência.
Explicar as fases da dependência química e ressaltar que a recaída faz parte, é esperada (mais de 90% dos pacientes irão ter recaídas após iniciar o tratamento) e não significa fracasso é importante.
Esclarecer sobre a função de cada medicação, encaminhar para psicoterapia e grupos de apoio, ensinar estratégias para lidar com os momentos de fissura e aumentar a rede de apoio do paciente é outro pilar.
Por fim, incentivá-lo a criar conexões verdadeiras com os outros é essencial. Ter que esconder e mentir sobre sua situação atual traz cada vez mais angústia e sentimentos negativos. Começar a falar a verdade sobre o que está passando com seus familiares e amigos e receber o apoio deles é uma conexão poderosa, a qual libera dopamina, gera prazer e ajuda muito no tratamento.